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O fim da era que nunca existiu

A restrição do uso da internet por meio de pacotes de dados limitados, que tem sido defendida por grandes operadoras, põe em cheque um mundo de possibilidades prometidas com o desenvolvimento da Internet das Coisas. Em artigo, Edmardo Galli, CEO da CEO da IgnitionOne no Brasil, analisa os avanços tecnológicos que podem ser barrados com a medida e desperta para a necessidade de uma discussão que envolva toda a sociedade.

Carros que pré-aquecem seus assentos quando está frio, minutos antes do motorista entrar. Celulares que avisam quando você deve sair de casa, se quer chegar no trabalho no horário. Geladeiras que te mandam uma mensagem quando está acabando o leite; ou melhor ainda, já compram mais online. Relógios inteligentes que conseguem identificar ataques cardíacos e chamar uma ambulância automaticamente. Isso não é mais ficção científica, mas uma realidade cada vez mais crescente. Esse é o mundo da Internet das Coisas.

Agora, imagine que todos esses objetos necessitam de uma conexão à internet 24 horas por dia. Isso é muita internet. Realmente, muita internet.

Mas, não precisamos ir tão longe: uma hora de streaming em HD na Netflix, equivale a 3GB de conexão online. Um jogo de PS4 ou Xbox One facilmente possui de 30GB a 60GB a serem baixados. E cinco minutos de vídeo em HD no YouTube já são 40MB na conta. Mas você com certeza já sabe porque eu estou falando tudo isso.

Desde o início do ano, se discute a decisão das principais operadoras de internet banda larga de oferecer apenas pacotes de dados limitados, igual ao que temos com os celulares atualmente. Ou seja, você tem um número limitado de gigabytes de dados para acessar no mês. Ultrapassou esse volume, sua velocidade é reduzida ou até cortada. Isso, obviamente não agradou nem um pouco os consumidores. E não é para menos: a internet é cada vez mais uma poderosa ferramenta de acesso à informação e limitar esse acesso é uma atitude retrógrada.

Sem entrar na discussão aflorada de “o que eu quero” vs. “o que as operadoras querem”, vamos analisar a questão de um ponto de vista técnico. Vamos considerar que todos teremos o plano mais caro da Vivo Internet, não o de fibra ótica: 25 Mbps de velocidade, com limite de 130GB. Esse é um plano relativamente acessível e que, suponho, tenha boa adesão do público.

Aqui na IgnitionOne, temos 20 funcionários, que trabalham 8 horas por dia, durante 20 dias no mês. Isso daria 6,5GB por funcionário por mês, ou seja, 325MB por dia. Nós temos apresentações de PowerPoint que são mais pesadas do que isso. Mas tudo bem, talvez essas operadoras não imponham o limite nos planos para empresa.

Na minha casa, somos em três pessoas. Isso seria aproximadamente 43GB para cada um por mês. Isso até pode parecer muito, mas com Netflix, Spotify, Google Drive (a sincronização automática de dados utiliza muita banda), Dropbox, Facebook, Twitter, YouTube, notebooks, celulares, tablets, SmartTVs, SmartWatches, entre outros, esse gasto vai embora rapidamente.

O que mais me assusta na decisão é o retrocesso que vem com ela. Em uma sociedade cada vez mais conectada, que utiliza internet para praticamente todas as suas atividades diárias, limitar esse acesso é algo impensável. Todos os sonhos de um mundo conectado, da “era da informação”, de segurança digital, de facilidades sociais, de um futuro melhor, vão por água abaixo.

João Batista de Rezende, presidente da Anatel, afirmou que “a era da internet ilimitada acabou”. Mas a internet sempre foi e sempre deverá ser ilimitada! Vivemos em um mundo no qual as conexões são ilimitadas, os dados são ilimitados, as possibilidades que eles oferecem são ilimitadas, então por que a internet deveria ser limitada?

Mas, pelo menos, algumas poucas coisas podem ser vistas nessa história. As pessoas não aceitam mais esse tipo de abuso caladas, e a revolta popular se traduz de muitas maneiras, mas a mais expressiva delas é a petição online contra a medida que, agora enquanto escrevo, conta com aproximadamente 1,6 milhões de assinaturas. E funcionou, pois, o primeiro passo foi dado: a Anatel proibiu o limite de dados por tempo indeterminado. Além disso, pela primeira vez na história do Brasil, nunca se falou tanto em “Internet das Coisas” e “Disrupção” como agora.

Espero que essa discussão traga, ao menos, um conhecimento maior de que a tecnologia e a internet ainda vão contribuir muito para a nossa sociedade e continuar mudando nosso mundo. Mas para isso, precisamos que o acesso a todas as suas possibilidades seja ilimitado e incentivado!